Se entrar em processo de privatização, a maior central da América Latina terá concorrência direta de vários de seus atuais permissionários (Imagem: Ceagesp)
No rol das estatais que poderão ser privatizadas, a Ceagesp corre sério risco de dividir os possíveis interesses – ou esvaziá-los de vez – entre seus outros ativos do que atrair investidores só pelo que parece ser hoje a cereja do bolo, o entreposto da capital. Não fosse apenas suas operações deficitárias, espremido sem poder crescer em tamanho e pela logística de acesso à Zona Oeste de São Paulo, a concorrência deverá estar ativa. E quem está lá dentro atualmente, deverá sair.
No cenário atacadista de distribuição de alimentos frescos no maior centro consumidor brasileiro, deverá estar em operação o privado Novo Entreposto de São Paulo (Nesp), contando com a última licença que falta para começar as obras – uma alça de acesso à Rodovia dos Bandeirantes. E os 155 sócios-proprietários do terreno de Perus, na Zona Norte, mais os outros que poderão vir apenas como locatários, estão todos também no Ceagesp.
O presidente do Nesp, Sérgio Benassi, empresário da tradicional Benassi, um dos maiores atacadistas em frutas, não é tão taxativo quanto à saída dele e dos outros do velho entreposto estrangulado. Mas mesmo vendo como favorável a privatização anunciada pelo governo Bolsonaro (também foi listada a Central de Belo Horizonte), não é difícil imaginar quando ele agrega os outros fatores que poderão afetar um pouco mais os interesses negativamente.
Tempo é dinheiro
Além de deficitária, como afirma, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo vai ter na concorrência um acesso muito mais facilitado no lado onde estará o Nesp, cerca do Rodoanel. Compradores de toda a grande São Paulo terão mais facilidades, tanto quanto a chegada dos caminhões de todas as partes do Brasil.
“Independente de como ficará a Ceagesp (esvaziada ou não), o nosso projeto vai ter essa vantagem”, aposta Benassi, que lembra, ainda, de outros dois projetos de entresposto privado que estão em estudo.
Nesse mercado, tempo é dinheiro. E isso uma nova Ceagesp não mudará.
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Quem compra, basicamente pequenos varejistas, corre para se abastecer depois corre para suas lojas; caminhoneiros e os proprietários de cargas perecíveis não podem gastar muito tempo para descarregarem. Só como um dos gargalos da Vila Leopoldina, onde se localiza a Ceagesp: enchentes. E muitas entraram para a história.
Sérgio Benassi, cuja empresa nasceu ali e em Campinas, lembra do gigantismo da Ceagesp. Não basta a base paulistana ser a maior central da América Latina, com todos aqueles números que de tão superlativos são até cansativos de serem reproduzidos a toda hora, mas sua capilaridade no estado.
São 18 armazéns e silos, muitos ociosos e obsoletos, para não se dizer alguns abandonados, e 13 entrepostos em importantes cidades. Enquanto alguns ativos podem ser vendidos separadamente, valendo pelos terremos ao menos, outros podem ser revitalizados. “Entrepostos como o de Ribeirão Preto”, comenta o representante do futuro entreposto privado.
Fatiamento ou EPP
“É preciso esperar um melhor delineamento e mesmo um futuro edital, por enquanto é tudo muito inicial, mas só o projeto do Nesp já é algo que deve ser levado em conta”, avalia Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Mas é possível ele arriscar possibilidades, como fatiamento, ou um híbrido de Empresa Público-Privada (EPP), como alternativa à privatização puro-sangue.
Por falar em EPP ou coisa parecida, Benassi lembra que o Sincaesp, sindicato dos permissionários da Ceagesp já encaminhou no passado uma proposta de gestão ao Ministério da Agricultura (Mapa), mas naturalmente deve ter morrido em algum escaninho. A entidade foi solicitada a comentar a notícia da possível privatização, mas não retornou.
A contar daqui para frente, o mercado tem a esperar o governo federal levar a proposta adiante, detalhá-la e botar na praça. Só que a Ceagesp também terá concorrente em termos de prazo dentro do governo, que listou até 20 candidatas, como o Correios.
Correndo por fora está a Nesp, seus proprietários que também serão operadores, mais o tanto que vier para completar os 650, todos esperando o governador João Dória manter a promessa do ex-governador Geraldo Alckmin sobre a liberação do acesso à Bandeirantes. E com o desembaraço burocrático municipal já resolvido pelo ex-prefeito Fernando Haddad.
Por enquanto a concorrência da Ceagesp, pública ou privada, é R$ 500 milhões do terreno e de no mínimo R$ 1 bilhão em obras.
Fonte: https://moneytimes.com.br/privatizacao-potencial-da-ceagesp-poder-ser-esvaziado-pela-concorrencia-de-seus-proprios-atacadistas/