O primeiro alimento que recebemos ao nascer é o leite materno e o ideal é que seja substituído apenas após os 2 anos de idade pelo leite de vaca. Só que, mesmo sendo consumido há tempos, ainda hoje o leite que compramos nos supermercados costuma ser questionado. E quais seriam os motivos? Entre algumas razões mencionadas, muitas delas sem a devida comprovação científica, está a associação do leite à intolerância à lactose, que o tornaria pesado e de difícil digestão.
Essa intolerância é a incapacidade parcial ou completa de digerir o açúcar existente no leite, a tal lactose. E ela ocorre quando o organismo deixa de produzir –ou produz em quantidade insuficiente– uma enzima digestiva chamada lactase, capaz de quebrar a lactose em duas outras moléculas de açúcar, a glicose e a galactose. Em resumo , quem não produz a lactase não consegue digerir a lactose e isso, de fato, gera grande desconforto abdominal, sem contar outros sintomas, como a diarreia.
Uma confusão comum é relacionar intolerância à lactose com alergias. A alergia alimentar é uma reação do sistema imunológico a um determinado componente. No caso do leite, algumas proteínas podem causar reações assim, como a caseína, a albumina, as proteases e as peptonas, entre outras. Essas proteínas causadoras de alergias, porém, não têm nada a ver com a lactose por trás da intolerância.
A carência da lactase dos intolerantes pode ser controlada com dieta e medicamentos. Uma vez diagnosticado o problema, o primeiro passo do tratamento é suspender a ingestão do leite e seus derivados. Posteriormente , esses alimentos devem ser reintroduzidos aos poucos até que se identifique a quantidade máxima que o organismo suporta sem manifestar qualquer sintoma adverso. Essa conduta terapêutica tem como objetivo manter a oferta de cálcio na alimentação, nutriente que, junto com a vitamina D, é indispensável para a formação saudável de massa óssea.
Indivíduos com intolerâncias mais severas à lactose têm como excelente alternativa utilizar suplementos de lactase, ingeridos antes do momento de consumir um alimento com lactose. Esses suplementos, hoje, podem ser encontrados nas farmácias. Mas atenção: só devem ser utilizados sob recomendação de médicos ou nutricionistas.
Na hora das compras, os intolerantes devem prestar atenção à rotulagem. Qualquer alimento, lácteo ou não, que apresentar a quantidade de lactose maior que 0,1% deve apresentar no seu rótulo a declaração : “contém lactose”, justamente para acender o sinal de alerta para os consumidores intolerantes.
Muitas vezes, a melhor opção é mesmo fazer uso dos leites modificados, que apresentam a seguinte declaração no rótulo: “baixo em lactose”. Isso significa que, naquele produto, a quantidade de lactose é maior do que 0,1% e igual ou menor do que 1%.
Existem ainda produtos que estampam “zero lactose” no rótulo. Neles, a quantidade de lactose é igual ou menor a 0,1%. Para oferecer produtos como esses, a indústria usa a mesma enzima lactase dos suplementos, durante o processo de produção. Daí que o leite e seus derivados podem chegar às nossas mesas já livres da lactose.
Saiba que o leite é um alimento muito importante. Apresenta em sua composição cerca de 3,5% de proteínas, sendo 2,9% em caseínas e 0,6% em proteínas do soro de leite, como a lactoalbumina. Também é fonte de cálcio e apresenta uma boa quantidade de fósforo. Sem contar que possui 3% de gordura de boa funcionalidade. E é um alimento de produção e oferta ampla, com cadeia de distribuição estabelecida e grande aceitação por parte do público.
Devo reforçar que indivíduos que não são intolerantes à lactose não precisam se preocupar com suplementos ou alimentos com redução desse açúcar. Não faz o menor sentido, se não têm dificuldade para digerir a lactose. Claro, existem os intolerantes. Só que, atenção, eles não são maioria. Estima-se que apenas de 35% a 40% da população brasileira tenha algum grau de intolerância.
Até mesmo os intolerantes encontram excelentes alternativas, algumas delas proporcionadas pela tecnologia biológica aplicada, que possibilita os microorganismos a produzirem a enzima lactase, para que os consumidores convivam bem com os produtos tradicionalmente ricos em lactose, sem abrir mão do seu importante valor nutricional. Não há razão, portanto, para o preconceito contra o leite por conta da intolerância.
Fonte: VivaBem