

Nutricionista explica os cuidados necessários com crianças vegetarianas
Nutrientes da carne podem ser repostos de outras formas.
Muito se fala sobre dietas vegetarianas e veganas. Quando se foca na alimentação infantil, várias dúvidas surgem, afinal, é saudável que os pequenos não comam carne? Quais cuidado são necessários nesses casos?
Apesar das polêmicas sobre o assunto, Karine Durães, nutricionista especializada em Pediatria pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, garante que o vegetarianismo pode, sim, ser adotado pelos infantes. Tem outras dúvidas? Confira a entrevista completa com a especialista.
As crianças correm algum risco por não comerem carne?
K.D.: Não, segundo o Conselho Federal de Nutrição uma dieta sem carne poderia ser assumida em qualquer fase da vida, inclusive pelos pequenos. É muito comum crianças vegetarianas adquirirem esse hábito dos pais. Se os nutrientes forem repostos da maneira correta, não há problema nenhum.
Crianças vegetarianas precisam de um acompanhamento específico de pediatra e nutricionista?
K.D.: Todas as crianças, mesmo as que comem carne, precisam de um acompanhamento, tanto de um pediatra quanto de um nutricionista, pois uma dieta desequilibrada vai trazer déficits nutricionais. O que existe em muitos casos é que crianças vegetarianas vão precisar fazer uma suplementação, o que torna o acompanhamento ainda mais importante.
Existe uma dieta adequada para crianças?
K.D.: Em primeiro lugar a alimentação infantil deveria ter uma boa base de vegetais, para aumentar o consumo de fitoquímicos e fibras. Também é muito indicado o consumo de frutas, cereais e leguminosas (como feijão, lentilha e grão de bico). O interessante é a dieta que seja balanceada, com menos ultraprocessados e mais alimentos de ‘verdade’. Uma alimentação adequada é variada, pode ter carne ou não, depende muito da cultura familiar.
Qual a importância da cultura da família nesse sentido?
K.D.: O comer não passa só pelos nutrientes consumidos, mas também pelo o que se acredita em relação ao alimento, o porque se está comendo, como se está comendo e se esse alimento é ingerido com prazer. A parte psicológica envolvida na escolha do alimento é tão importante quanto a nutricional. Uma dieta saudável para uma criança é aquela rica em nutrientes mas também que ela se sinta feliz e segura comendo.
A carne contém proteína, niacina, vitamina B6, vitamina B12, fósforo, zinco e ferro, entre outros componentes. Como repor esses nutrientes?
K.D.: Uma criança que consome castanhas, iogurte, folhas verdes escuras, hortaliças e leguminosas vai conseguir repor a maior parte das vitaminas do complexo B. A única vitamina desse complexo que não é encontrada em alimentos de origem vegetal é a B12, que pode ser reposta a partir de compostos em gotas manipulados em farmácias.
Que alimentos podem substituir o Zinco?
K.D.: O zinco é fundamental para o desenvolvimento das crianças e também para uma boa imunidade. Uma das maiores fontes de zinco vegetal é a semente de abóbora. Esse nutriente também está presente na aveia, em leguminosas, derivados de soja, sementes, alguns vegetais integrais como centeio, e até na pipoca tem um pouco de zinco.
Como repor o ferro? E as proteínas?
K.D.: Os alimentos fontes de ferro são as leguminosas (feijão, lentilha, soja, grão de bico), algumas frutas secas e castanhas, assim como a quinoa. Já os aminoácidos, que são os pedacinhos pequenos da proteína, podem ser encontrados no arroz, no feijão, na soja, nas castanhas, nos cogumelos e nas sementes.
E ao contrário? Existe algum problema no consumo exagerado de carne?
K.D.: O que pode acontecer é uma sobrecarga renal. Além disso, quando se ingere muita carne geralmente se deixa de ter espaço para comer mais vegetais, e o estímulo ao consumo de vegetais de maneiras diferentes e lúdicas é sempre importante. Nós não deveríamos só problematizar o não consumo de leite ou de carne na dieta das crianças, mas também a falta de vegetais, que é muito comum em nossa cultura.