Para o conselheiro da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), André Genesini, a pandemia fez o mercado dobrar de volume a avanças três anos.
Com a pandemia e a suspensão das aulas presenciais, a Educação a Distância ganhou protagonismo, tanto para a formação de novos profissionais, nas mais variadas áreas, quanto em cursos livres, que servem para levar mais conhecimento aos alunos e reforçar os currículos. Para o conselheiro da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), André Genesini, o número de alunos dobrou durante a quarentena e o segmento avançou cerca de três anos na criação de novos cursos e matrículas.
Genesini é Mestre em Educação pela PUC/SP e sócio-diretor da Educamos Online, além de pesquisador na área de educação a distância e especialista em Marketing Digital para Infoprodutos. Em entrevista exclusiva para o site Alimento & Ação ele adianta que o que existe hoje nas escola foi uma adequação dos cursos presenciais para a internet, mas não entende isso como Educação a Distância.
Alimento & Ação – Diante da pandemia, quais os principais gargalos enfrentados pelo ensino a distância no país?
André Genesini – Os principais gargalos da Educação a Distância no país atualmente vêm de escolas, empresas e organizações que não estavam preparadas para ensinar online e foram obrigados a fazê-lo neste momento. O que a maioria faz, porém, não é a educação a distância, mas uma adaptação rápida do presencial para o online. O EaD exige planejamento por meses antes de iniciar e um mix complexo de ferramentas, pedagogias, estilos de aprendizagem e materiais de diversos tipos que se apresentam em momentos síncronos e assíncronos. A boa educação a distância não tem gargalos, pois nem a Internet é limite quando se pode chegar às pessoas por rádio, televisão e satélite. O que tem gargalo é essa improvisação online feita às pressas, para compensar o presencial que não pode mais ocorrer, e que nada se assemelha ao verdadeiro EaD. O EaD bem planejada não tem gargalos, tem escala e qualidade.
Alimento & Ação – Para cursos que exigem uma fase prática, como na área de Gastronomia, como estimular os alunos a participarem e deixar para um segundo momento esse treinamento “in loco”?
André Genesini – Cursos práticos com momentos híbridos a distância não são novos e funcionam muito bem. Se hoje a telemedicina funciona muito bem, o que dirá da gastronomia. As pessoas há muito já aprendem apenas assistindo bons canais no YouTube e transformam essas lições em pratos compartilhados com amigos e família. O planejamento de um currículo online de sucesso envolve um mix de profissionais de várias áreas. E no bom planejamento EaD a prática se insere harmonicamente com a teoria. Em especial existem as técnicas de educação a distância chamadas de Work Based Learning, onde o currículo são as necessidades do ambiente de trabalho. Por exemplo, se um grupo de alunos tem um buffet de casamento no seu trabalho, o professor vai orientar o ensino a essa necessidade. Se outro grupo na mesma semana precisa fazer um evento de gastronomia harmonizada com vinho, o professor vai dar material de orientação extra para que esta atividade aconteça com sucesso. Não existem cursos bem planejados de EaD na qual a prática fica por último. Existem, sim, cursos de EaD mal planejados, onde o currículo não tem conexão com a realidade das necessidades do mercado de trabalho. Então, o principal ingrediente de sucesso para um curso online que envolve profissões muito práticas, como gastronomia e enfermagem, é bom planejamento pedagógico baseado nas necessidades do mercado de trabalho e do aluno de implementar dia a dia no seu trabalho ou estágio. O que pode também ajudar são estratégias de Gamificação do ensino, divulgar nas mídias sociais o trabalho dos alunos e o compartilhamento da prática, como, por exemplo, compartilhamento dos pratos em vídeo e imagens para que a turma comente no formato de avaliação em pares.
Alimento & Ação – Acredita que, a partir de agora, os cursos à distância terão mais participação na vida da população?
André Genesini – Sim, o mercado dobrou de volume e avançou três anos no tempo
Alimento & Ação – Como identificar um curso de qualidade na rede?
André Genesini – Do mesmo modo que no presencial, vendo a avaliação do MEC do curso e da faculdade, além do que se comenta nas redes sociais. Falar com ex-alunos ajuda muito também.
A Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) é uma sociedade científica sem fins lucrativos, religioso ou político partidário, não tem caráter sindical ou classista ou governamental. A entidade possui a missão de estimular o desenvolvimento da educação aberta, flexível e à distância no Brasil. Foi criada em 1995, por um grupo de educadores especialistas em educação mediada por tecnologias, com o objetivo de mostrar que educação a distância é viável sob diversos pontos de vistas – acadêmico, pedagógico, econômico e legal. Atualmente, a associação conta com mais de 17 mil membros, entre professores, pesquisadores, profissionais das áreas de educação e corporativa e instituições de ensino.
Os dados sobre Ensino a Distância no Brasil podem ser obtidos aqui, no último CensoEaD.BR.
Fonte: https://www.alimentoeacao.info/post/educa%C3%A7%C3%A3o-a-dist%C3%A2ncia-ganha-terreno-com-pandemia-em-forma%C3%A7%C3%A3o-e-cursos